Almas Gêmeas

Eu te amo e tu me amas, desde tempo imemoráveis, eu era ameba
você também.
Nascemos juntos num pingo de chuva que o sol fermentou,
nos mandando de volta à imortalidade.
De novo juntos voltamos plantados no mesmo punhado de terra, eu verde,
você rosa, enraizados até a cintura, mesmo enterrados até a cintura,
um dinossauro não teve muito trabalho para nos arrancar com os dentes,
nos mastigar e nos engolir.
Nos mandando assim de volta para onde antes estávamos.
Não entendemos nada, aliás, como pode seres que praticamente
não existem ainda conscientemente, entender um processo existente
à bilhões de anos; a complexa lógica da criação de Deus.
De novo voltamos e numa caverna nos aconchegamos, o desconforto
da caverna era compensado pelo conforto dos seus olhos e por causa
da doce melodia da tua voz, mesmo sendo só rangidos, afinal, você
não sabia falar, nem eu, nem ninguém, pois pra se falar precisam
existir palavras e nem palavras existiam naquela época.
Como se pode falar palavras que não existem?
Mas tudo bem, não precisávamos de palavras para nos comunicar.
Só com o olhar eu te entendia, e você me entendia, mesmo com
tantos pelos a atrapalhar.
O tempo passou e de novo dessencarnamos.
Mais um tempo depois voltamos eu rei, você rainha.
Eu era o faraó da maldade, você a rainha da vaidade.
Juntos escravizamos quase o mundo todo.
Mas o tempo passa e com ele tudo vai.
Nossa maldade o tempo não deixou durar muito.
Voltamos negros escravizados acorrentados e separados
em uma senzala.
Cego pela dor de não te-la mais aqui perto de mim,
resolvi me vingar de todos aqueles homens
de cabelos de ouro que a tiraram de mim,
violentaram seu corpo e sua liberdade
com correntes e chicotes.
Mateu muitos deles, mas muitos deles me mataram também.
Pela minha incompreenção , piorei a situação.
Hoje reencarnado e solitário te procuro.
E não te acho.
Será que você voltou para essa prisão, também?
Ou tenta me libertar de onde você está?


Fábio Mendes

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